Janela da Alma,

Posted by Annick Melo (: On 11:11 No comments


Marjut Rimminem – Posso olhar para você e você provavelmente percebe que estou olhando para você. Antigamente quando eu olhava para uma pessoa, ela virava para o lado e perguntava “Com quem está falando?”. E isso era terrivelmente desagradável. Você não tem aquele contato com as pessoas. Eu lembro da minha mãe sempre olhando para mim com aquele olhar triste e deprimido. Olhando para mim, mas sem se comunicar comigo. Olhando através de mim como que dizendo “Coitada da minha filha, que horror”. E isso me afetou. Como se eu fosse um fracasso para que ela me olhasse assim. Mas eu estava decidida a não ser um fracasso, a lutar e fazer de tudo que pudesse, a escolher uma profissão na qual, possuindo algo único, conseguisse transformar essas cinzas em uma jóia. (…) Eu queria ser princesa como minhas colegas de classe, desempenhar o papel principal de princesa no teatro da escola, mas nunca fui escolhida para o papel de princesa. Meu papel era, frequentemente, o papel do rei. E eu passava a maior parte do tempo de cena embaixo de um pano cinza, transformada em pedra devido a um encantamento. No final da peça, quando o feitiço era quebrado, eu me levantava e podia voltar a ser rei durante aproximadamente dois minutos, e a peça acabava. Esse era meu papel. Então deixei de querer, depois de um certo tempo, parei de desejar o papel principal. Comecei a imaginar. E o fato de ser cineasta e de fazer cinema de animação me permite desempenhar todos os papéis. Eu manipulo os bonecos, desenho as personagens. Assim desempenho o papel de todas as personagens. O que me agrada muito. Finalmente consegui o papel da princesa ao qual sempre aspirei na escola. E o paradoxo em tudo isso é que logo depois da última operação, que foi bem sucedida e os olhos foram corrigidos, ninguém notou a diferença. Ninguém me disse:  “O que houve com seu olho? Que maravilha!”. Ninguém notou. Então de que adiantou todo esse trauma? Foi uma lesão interna.

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